Anissó

Benigno Sousa

Anissó, localidade situada num pequeno vale a média altitude, é abrigado dos ventos frios do Norte pelos montes Crasto e Penamorinha, de onde brotam alguns ribeiros. Tem, por isso, boas potencialidades para a produção agrícola cerealífera e não só.

Se recuássemos mais de seis décadas, veríamos a sua agricultura a alimentar a sua população, de aproximadamente 350 pessoas, e ocupar cerca de 90% da sua população activa, e somente 10% na construção civil, dentro ou fora da freguesia.

Na década de sessenta, a emigração da freguesia para o estrangeiro acelerou e, na de setenta, continuou então também para as cidades do litoral, e assim tem continuado.

Como por todo o interior do País, a desertificação aqui é um facto e, hoje, em Anissó, encontramos apenas uma unidade de exploração agrícola com dimensão e características modernas adequadas, que lhe permitem alguma rentabilidade e sustentabilidade, pertencente a Benigno Sousa, e que tem uma área de terreno arável de 1ª categoria de sete hectares, de onde retira a forragem e pastagem que necessita para o seu gado vacum (35 cabeças) do qual, cerca de quinze cabeças, são vacas leiteiras.

Porém, Anissó, onde predomina a pequena propriedade, com a reforma agrária de emparcelamento, que não foi feita, podia constituir seis ou sete unidades de dimensão adequada rentável, agrupadas ou não, apoiadas em maquinaria e umas boas dezenas de postos de trabalho ocupados.

Governo que queira relançar a agricultura em moldes modernos, precisa-se. Falar de desemprego no nosso País, onde milhares e milhares de postos de trabalho esperam ocupação, é paradoxal!
Infelizmente, nos programas eleitorais dos partidos políticos, nenhum refere o relançamento da agricultura. Porquê? Porque os votos estão nas zonas urbanas, cuja população não quer saber da agricultura para nada; não é cartaz para nenhum partido político, portanto.

Em Anissó, os pequenos proprietários vão sobrevivendo, vendendo o que podem nos montes: Algumas madeiras que vão escapando ao fogo; as nascentes e até os penedos que configuravam os montes; onde andam os zeladores do ambiente?!

Aqui, 85% da população é idosa, e vai sobrevivendo com as pequenas reformas complementadas com alguns produtos de alguma horta que vão cultivando. As condições de vida, de quem ali vai ficando, vão piorando ao ponto de não haver escola nem transportes públicos, nem sequer uma mercearia, apenas o “snack-bar” da ARCA vai dando algum sinal de vida à freguesia.

Autor do texto: Casimiro Soares