Cantelães
Leandro Pereira
Aconchegada à Serra da Cabreira, da qual toma boa parte, Cantelães, terra agreste de vasto encanto e beleza, prenhe de natureza e história, é um lugar que, na sua harmonia cósmica e telúrica, se constitui como um espaço primordial e mítico, onde histórias atuais e antigas de cavalos e cavaleiros servem ainda de lastro à imaginação dos homens.
Ainda hoje, é na serra sobranceira à freguesia que podemos encontrar algumas das mais expressivas manadas de garranos, percorrendo os alcandorados vales, as inóspitas vertentes e as soberbas e altaneiras cumeadas, no encalço da pastagem, de que se alimentam.
Moldado pelas agruras do habitat, selecionado pelo meio natural, este cavalo autóctone, foi, desde tempos seculares, laborioso companheiro das gentes da nossa terra. Rústico, resistente, bem adaptado ao meio, dócil com as crianças, inteligente e trabalhador, o garrano prestou inestimáveis serviços a este povo que, ao longo dos séculos, desbravou montes e vales para deles tirar o sustento. Talvez por isso, o amor ao garrano encontre, aqui, um lugar de celebração.
Os cantelanenses, orgulhosamente tributários do passado, espelhando a simbiose identitária que os liga ao garrano, galhardamente o elegeram para encimar o brasão da freguesia. É também em Cantelães que, com uma dedicação, brio e destreza invulgares, como a imagem bem ilustra, os seus criadores trabalham, orgulhosamente, para enaltecer e potenciar as invulgares capacidades e aptidões deste importante cavalo, afastando, desse modo, o risco de extinção a que ainda se encontra sujeito.
A sua preservação ancora-se, hoje, num novo paradigma voltado para o turismo e que resulte em retorno e valor acrescentado para os seus criadores. Seja no turismo de montanha, na equitação, no agro-turismo ou nos passeios equestres, é necessário promover o seu sábio aproveitamento.
As iniciativas empreendedoras em curso, nesta localidade, são auspiciosas.
Se assim for, estará assegurado o futuro deste Grande Cavalo Pequeno.
Autor do texto: Francisco Álvares