Ruivães

Domingos Sousa

Na Freguesia de Ruivães, situada no concelho de Vieira do Minho, existem alguns moinhos que, outrora, eram o expoente máximo da sobrevivência da comunidade e do património cultural da região. Os moinhos de ontem são, agora, ícones de sobrevivência.

Movidos a água proveniente dos rios e riachos do Ave que, caudalosamente, em Ruivães, tomou o nome de Saltadoiro, e também as conhecidas levadas que eram encaminhadas para os diversos campos, sobrantes, iam engrossar as águas que faziam moer estas casinhas com vida.

Moinhos que moíam o grão de milho e centeio, para fazer o abençoado pão que era o alimento base na nossa alimentação, e também o era a farinha para os animais. Numa casa grande, o moinho tinha muito movimento, pois havia muitas cabeças para alimentar. Era através da moagem do milho que as populações, sobretudo as senhoras com mestria, faziam a famosa “Broa de Milho”, hoje em dia, já um pouco arredada das nossas mesas.

Havia todo um ritual de ida e de volta ao moinho: lírico, bucólico e telúrico que, por ser comum a todos os moinhos a água, não se descreve aqui.

Depois que os grandes donos dos moinhos envelheceram, e os parentes foram para as cidades, também o homem vulgar os deixou ao abandono, já que os tomava de empréstimo às grandes casas de lavoura.
Houve ainda quem tentasse substituir os moinhos do rio por moinhos caseiros, onde se ia moer, de favor ou a pagar. Mas a beleza de um moinho, ao vivo, por ser indescritível é insubstituível!

Os moinhos de hoje são agora, acima de tudo, ícones turísticos e elementos transtemporais de transmissão de cultura etnográfica.

A reabilitação dos moinhos abandonados, de forma a trazer ao presente os usos e costumes da moagem do milho sendo requalificados, vão valorizar o património edificado, de forma a ser conhecida, pelas novas gerações, a forma de viver de há cinquenta ou mais anos. O trabalho, as alfaias agrícolas usadas para o moinho eram comuns a todos os moinhos de água existentes em Portugal, e o produto final, desta cadeia do grão de milho, era o pão.

A vantagem da reabilitação do moinho, é a da transmissão de cultura entre gerações da recuperação de uma tradição secular tornada património paisagístico e turístico. Todos os habitantes deste lugar, assente no sopé da Serra da Cabreira, poderão reviver e viver, no presente, o “saber fazer” do passado.

Além de se preservar o património arquitetónico e cultural desta freguesia, estaremos a contribuir para a divulgação do conhecimento de técnicas e do estilo de vida antiga, onde a mão, o braço e a cabeça eram fundamentais, mas mais do que estes, é essencial a água do rio que os fazia mover.

Com a recuperação deste património, potencia-se o turismo rural existente na localidade, assim como o turismo de natureza, visto a localização destes moinhos estar situada na passagem de vários trilhos pedestres, mais concretamente na peugada da Via Romana XVII, que passa exactamente em Ruivães.

Autor do texto: Pedro Silva