“PORTUGAL, UMA VISÃO DE MÉDIO E LONGO PRAZO”

No dia 6 de Setembro, Diogo Freitas do Amaral apresentou-se na Casa Museu Adelino Ângelo – em Vieira do Minho, a convite da associação CAVA, para uma exposição e troca de ideias sobre o futuro próximo e distante de Portugal. Infelizmente, hoje não se discute o médio e longo prazo do país. Tendo como referência a Batalha de S. Mamede, brevemente, contaremos nove séculos de História. Faltam 14 anos, para a celebrarmos. Devemos perguntar-nos o que queremos fazer deste país. Certamente que queremos mais próspero e mais justo. Vamos sair desta crise como já saímos de outras. Não vamos ficar sempre a marcar passo. Pertencemos, apesar de tudo, ao grupo dos 50 países mais ricos do planeta.

Hoje, o planeamento é obrigatório. As grandes empresas americanas fazem planeamento a curto e médio prazo, sem o divulgarem. A Coca-Cola levou 20 anos a realizar o seu planeamento. As próprias universidades, em Portugal, não estudam as questões fundamentais de desenvolvimento. O parlamento perde-se numa visão ideológica e tecnocrática. O primeiro passo para acertar ideias, sobre o futuro que queremos ter, é estabelecer comparações com países de dimensão semelhante à nossa, no que respeita à agricultura, pescas, indústria, saúde, consumo, turismo, inovação tecnológica. Como país de orientação capitalista, não temos capital suficiente para o planeamento necessário. É imprescindível atrair esse capital de outros países que, aqui, queiram investir. Mas capital só para fazerem, cá, aquilo que não podemos fazer sozinhos. Vender aos estrangeiros as empresas nacionais, resultantes da nossa tecnologia avançada, é um erro. É urgente pensar em aproveitar melhor os recursos marinhos. Os Ministérios gastam o tempo a solucionar os problemas imediatos, sem terem uma estratégia de futuro. Perante o previsto alargamento da plataforma marítima, não existe esboço de estratégia de aproveitamento de recursos. Mais uma vez, diante da escassez de capital para investimento, é preciso encontrar a fonte que os preconize.
Não existe uma estratégia nacional para recuperação dos cérebros formados que abandonam o país. Temos cursos superiores que não servem para nada. Não se pode cortar as pernas a jovens que queiram progredir. A imigração de jovens competentes não é forçosamente má, se tivermos em conta a globalização. Eles podem ser nossos embaixadores, no estrangeiro. Quando regressarem, terão acumulado experiência e conhecimentos que nos poderão ser úteis. Mas também é preciso programar o seu regresso. Perante o problema de empobrecimento face à Comunidade Europeia, com a venda das nossas indústrias e com uma agricultura paga para não produzir, Freitas do Amaral volta à questão do planeamento necessário. Devemos perguntar-nos em que é que podemos ser bons. Temos de resolver os problemas estruturais, temos de pôr os cidadãos na média da Comunidade Europeia. Nós até fomos os primeiros a operar grandes mutações na História Mundial, por exemplo, quando abolimos a escravatura. O mau funcionamento da justiça afastou investidores estrangeiros. Assim, não conseguimos bons negócios. Temos de conseguir ter trabalhadores a ganhar em Portugal salários iguais à média da Comunidade Europeia. Mais uma vez, temos de planear, porque a navegação à vista faz perder grandes batalhas.
Perante a questão se a crise é culpa dos políticos ou do povo, Freitas do Amaral responde com a perspectiva de nove séculos. Há três causas da crise. A primeira foi o azar que aconteceu nos Estados Unidos, e que nos caiu em cima. Agravada pela política de restrições da Sra. Merkel. Seguidamente, foram os políticos que fizeram restrições, para além do que pedia a *troika*. Depois de se ter, com o governo Sócrates, aumentado a dívida. Culpa dos políticos. Felizmente, o Tribunal Constitucional foi um travão que permitiu manter algum poder de compra. O Povo Português não teve culpa. Deu maioria relativa a Sócrates. Aguentou, firmemente, tudo que contribui-o para resolver a crise. Só se revoltou uma vez, contra o aumento da taxa social única, que considerou ofensiva por querer obrigar os operários a pagar seis ou sete por cento dos salários, para benefício dos empresários. Regressaríamos à época em que só o povo pagava impostos. (*in* “Geresão”, de 15/09/2014)